Manoel Bomfim

Manoel Bomfim

O filho Revolucionário de Aracaju

Em 8 de agosto de 1868, nasceu em Aracaju o sexto filho do peão Paulino José e da fazendeira Maria Joaquina, Manoel José do Bomfim - futuro médico, professor, pedagogo e patrono da Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. 

 

Conhecido por muitos hoje como Rebelde Intelectual, em 1886 Manoel Bomfim foi a Bahia estudar Medicina. Foi na Faculdade de Medicina da Bahia que o jovem conheceu Alcindo Guanabara, que lhe incentivou a transferir seu curso para o Rio de Janeiro. Seguindo o conselho do amigo, em 1888 mudou-se para o Rio, onde concluiu graduação e logo iniciou atuação na Secretaria de Polícia e tenente-cirurgião da Brigada Policial.

Com o tempo, a vida do jovem médico tomou outros rumos- da medicina passou para educação. Em 1895, aos 27 anos, Bomfim foi convidado pelo Prefeito do Distrito Federal, Werneck de Almeida, para o importante cargo de subdiretor do Pedagogium, instituição responsável pela coordenação da Educação Nacional. A nomeação (1886), marca um pontapé na sua vida política que a partir desse momento toma caminhos revolucionários dentro do meio intelectual brasileiro, rompendo com o pensamento sociológico elitista da época.

Pedagogium; Fonte: UERJ

 

Manoel Bomfim, acreditava na educação libertária como instrumento para a construção da cidadania, e por isso criticava as políticas públicas de instrução popular de seu tempo. Uma das inúmeras “farpas” lançadas por ele, foi publicada em 1897, no jornal A República, do qual era secretário:

“ [...] não conheço é país onde o governo central se despreocupe tão absolutamente da instrução primária como entre nós; não sabendo o que o povo aprende nem se há escolas, nem o que nelas se ensina; [...]” ¹

O filho de Maria Joaquina foi professor na Escola Normal e em 1902 foi à Europa, para estudar psicologia com Alfred Binet (1857-1911) e George Dumas (1866-1946), e ao retornar fundou um dos primeiros laboratórios de psicologia experimental do Brasil. Um ano após sua volta, Manoel fez parte do Conselho Superior de Instrução Pública do Distrito Federal e deu mais um passo dos muitos que marcaram sua história na luta por uma educação de qualidade para todos: participou da criação da Universidade Popular de Ensino Livre (UPEL), universidade com o objetivo de a instruir do povo, sem as  doutrinações da Igreja e do Estado. Num contexto de pauperização da educação pública e abandono dos trabalhadores, o anarquismo tomava conta das organizações operárias do país, sendo assim apoiar o surgimento de uma Instituição do caráter da UPEL era posicionar-se abertamente como a favor de uma educação libertária e contra as forças das elites que ainda rodeiam o Brasil. 

Outro feito interessante e importantíssimo na trajetória do nosso patrono foi a participação na criação da revista O Tico-Tico (1905 - 1977), conhecido como o Jornal das Crianças, O Tico-Tico foi a primeira a publicar histórias em quadrinhos no país.

Revista O Tico-Tico Nº 56, 1906

Além da revista, em 1905, Manoel Bomfim publicou o polêmico livro A América Latina: Males de Origem, motivo dos famosos ataques pessoais do famoso crítico literário, também Sergipano, Silvio Romero (1851-1914). Manoel Bomfim estava mais uma vez “colocando sua cara a tapa”, sendo, como destaca Aluízio Alves Filho, o primeiro pensador a apontar o atraso da América Latina como não sendo devido a raça ou a geografia.

Em 1926, Bomfim descobriu um  câncer  de  próstata e iniciou sua luta contra a doença. Em meio às 14 cirurgias às quais se submeteu, durante os 5 anos seguintes dedicou-se à escrita. Até o fim de sua jornada em vida (22 de abril de 1932), Manoel Bomfim publicou suas obras sobre o nosso país: O  Brasil  na  América (1929); O  Brasil  na  História (1931) e  O  Brasil Nação (1931) em dois volumes. 

Por respeitar e admirar as importantíssimas contribuições feitas pelo seu antigo sócio e aproximar-se de seus princípios de defesa pela educação pública e democrática, o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe em 11 de setembro de 2020, o escolheu como patrono da sua biblioteca que hoje carrega com grande orgulho o nome de Manoel José do Bomfim. 

Pesquisa por: 

Cardoso, Sara

Revisão: 

Fontes, Aglaé

 

BIBLIOGRAFIA:

 

BOMFIM, M. A América latina: males de origem [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008.  291 p. ISBN: 978-85-99662-78-6. Available from SciELO Books

 

Santos, Ivan Paulo Silveira; A trajetória do pensamento crítico sobre a nação brasileira em Manoel Bomfim; SEDUC; Aracaju, 2021

 

CANAL ILB - Brasil das Letras - Manuel Bonfim; YouTube, 21 de out. de 2015, Disponível em: //www.youtube.com/watch?v=ZKwokXWHT24 Acesso em: 19/01/2023

 

LAMELA, Eduardo; INSTRUÇÃO E REVOLUÇÃO SOCIAL: A FORMAÇÃO DA UNIVERSIDADE POPULAR DE ENSINO LIVRE NO RIO DE JANEIRO EM 1904; 2017

 

MACHADO, C; BARBOSA, D; O PENSAMENTO EDUCACIONAL DE MANOEL BOMFIM A PARTIR DA OBRA AMÉRICA LATINA: MALES DE ORIGEM(1905); Revista do Programa de Pós-Graduação em Educaçãoda Universidade Estadual do Ceará (UECE); 2016

 

ALMEIDA, Sidinilha; Os sentidos da retomada de Manoel Bomfim no século XXI; UniCEUB – Centro Universitário de Brasília; Brasília, 2006 

 

O Tico-Tico : Jornal das crianças (RJ) [online] - Rio de Janeiro, 1906. Biblioteca Nacional Digital. 




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